Um dos cantinhos mais belo da nossa cidade, que se tornou um cartão postal do município e que está ligado à vida de muita gente, o Rio e a Barragem.
Apesar da beleza atual, até chegar aqui muita coisa aconteceu e mudou. Segundo as histórias lembradas pelos moradores mais antigos, um rio de pequeno porte, mas de águas correntes e profundo em muitos pontos, com pequenas cascatas, passava pelas terras da fazenda Palmares, distrito do município de Barreiras até sua emancipação em 22 de fevereiro de 1962 quando já se chamava São Desidério.
A maioria das casas foi construída próxima ao rio para facilitar o acesso à água, bem como uma pequena igreja em homenagem a Nossa Senhora Aparecida. Áreas de plantação de feijão e hortaliças também ficavam perto das águas, que eram sinônimo de vida, trabalho e diversão. O potencial do rio São Desidério, que leva o nome da cidade, despertou o interesse político e empresarial da época e antes mesmo da emancipação do município, uma barragem começou a ser construída no ano de 1958, no centro do então distrito, por meio da Comissão do Vale do São Francisco (CVSF), mais tarde denominada Companhia do Vale do São Francisco, depois transformada em Superintendência do Vale do São Francisco, até finalmente se tornar a Companhia de Desenvolvimento do Vale São Francisco (CODEVASF) como conhecemos atualmente, e onde meu avô trabalhou por muitos anos, lembro-me das histórias incríveis que contava.
Além da pouca mão de obra local, foram contratados trabalhadores de outras cidades e estados para a obra que movimentou o distrito e passou a modificar a rotina pacata dos moradores. A meta da construção da barragem era represar o rio para levar água aos produtores rurais de São Desidério à Barreiras por meio de um canal de irrigação que até hoje passa por várias propriedades. Mas foi por meio da barragem que a CVSF instalou o primeiro sistema de abastecimento de água encanada, todas as ruas existentes na época receberam a encanação, nem todos tinham condições de fazer a instalação em suas casas, por isso foram instalados também três Chafarizes na cidade, utilizados pela população geral. O serviço era gratuito e administrado pela prefeitura, na década de 1970 passou a ser gerido pela Empresa Baiana de Água e Saneamento (EMBASA).
O projeto da barragem incluía ainda uma lavanderia pública, e uma pequena hidrelétrica que apesar da construção do canal que levaria a água ao maquinário (já adquirido pela empresa responsável), não chegou a ser concluída, possivelmente por falta de verbas e interesse político.
Parte da obra da barragem foi inaugurada em 1963, mas nos anos seguintes continuou sendo executada outras partes do projeto que trouxe desenvolvimento, mas também descontentamento e alguns problemas sérios como a poluição do rio e a derrubada da mata ciliar. Dezenas de casas foram demolidas, plantações inundadas e as cascatas desapareceram. (Não consegui registros fotográficos dessas cascatas, mas quem lembra, conta com carinho, por isso me pego imaginando como seria se ainda existissem, talvez a barragem pudesse ser construída em outro ponto para preservá-las).
Na década de 1980 a margem da barragem recebeu uma estrutura em mureta de concreto, chamada de cais, no intuito de iniciar um projeto paisagístico do local. No início da década de 2000 essa estrutura foi derrubada e foi feito um calçadão ao redor da margem superior da barragem. Atualmente toda a margem do rio passou por revitalização e recebe investimentos estruturais e paisagísticos tornando o espaço um local agradável, propicio para passeios e prática esportiva.
Rio no Julião
Rio no Maquiniz atualmente
Enfim, na infância aproveitei muito os banhos na barragem, no canal e no rio, dois pontos conhecidos como Julião e Maquiniz eram atração certa e serviam também para as lavadeiras e pescadores. Tinha ainda a famosa Prainha, localizada no bairro Tangará, além da poluição, nesse ponto o rio sofreu um desvio, desta forma a prainha vai ficar apenas na lembrança de quem conheceu. Recordo perfeitamente da rudia de pano que minha vó usava para equilibrar a bacia de roupa na cabeça e levar até o rio, dos sacos de linhagem cheios de peixes que meu pai levava para casa no período liberado para pescaria e lembro mais ainda do tronco de uma árvore no meio do Julião de onde dávamos as ‘tibungadas’ dentro do rio. Hoje essa realidade não existe mais, ficou na memória e deixa saudades, espero profundamente que nosso rio possa ser despoluído e além da beleza paisagística, volte a ser aproveitado como antigamente. (Que nem é tão antigamente assim).
Dedico e agradeço às histórias lembradas por Otacílio Bispo dos Santos, Francisca Melquiades, Manoel Pereira de Souza (in memoriam). Algumas fotos são registros de família, imagens de redes sociais e encontradas na internet.